Cigarro eletrônico: especialistas alertam para malefícios do uso do dispositivo

Cigarro eletrônico: especialistas alertam para malefícios do uso do dispositivo

Sem nicotina, o cigarro eletrônico se tornou uma alternativa popular entre os que buscam fumar sem nicotina na composição do modelo. Segundo dados do relatório Covitel, divulgado em abril pela associação sem fins lucrativos Umane, a cada cinco jovens entre 18 e 24 anos, um faz uso do dispositivo, ou seja, quase 20% desse público. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proibiu a comercialização, importação e propaganda do modelo por falta de dados consolidados sobre os reais benefícios para a saúde. Especialistas do Centro Universitário Fametro (Unifametro) afirmam que o conhecido “vaper” pode, na verdade, acarretar malefícios.

Os usuários alegam que o dispositivo é menos prejudicial à saúde que o cigarro convencional e não contém odor. De acordo com Moisés Maia Neto, professor dos cursos de Farmácia e Enfermagem da Unifametro, o modelo apresenta sim menos substâncias tóxicas, mas o quantitativo não se traduz na redução dos malefícios quando comparado ao cigarro convencional. “Para os usuários de cigarros com tabaco, há um consenso que a troca pode trazer benefícios, mesmo que limitados. No entanto, a aderência por parte dos não dependentes, principalmente adolescentes e jovens, pode trazer diversos prejuízos a nível cardiovascular e respiratório, além dos cognitivos a longo prazo difíceis de mensurar”, explica Moisés.

Os cigarros convencionais, regulamentados pela Anvisa, são produzidos com um miligrama de nicotina. Já os eletrônicos, podem conter a substância em maior quantidade, pela falta de fiscalização. Enquanto um cigarro comum oferece cerca de 15 tragadas, um vaporizador possibilita cerca de 1,5 mil, o equivalente a cerca de cinco maços de cigarro. 

Prejuízos ao sistema respiratório
Natália Aguiar, fisioterapeuta e professora do curso de Fisioterapia da Unifametro, revela que o uso de cigarro eletrônico também pode levar a diversos danos ao sistema respiratório, gastrointestinal, além de causar dependência e estimular o uso de cigarros convencionais. A EVALI, sigla em inglês para “Lesão Pulmonar Associada ao uso de Cigarro Eletrônico”, é um exemplo de doença causada pelo uso do dispositivo. Falta de ar, tosse, náuseas, vômitos, febre, mal estar, taquicardia e taquipneia são alguns dos sintomas

“É uma reação inflamatória no pulmão, pode ocasionar fibrose pulmonar, pneumonia ou insuficiência respiratória. Quando diagnosticado, o paciente precisa suspender o uso do cigarro eletrônico, além de buscar suporte clínico, como suprimento de oxigênio e aplicação de ventilação mecânica”, explica a fisioterapeuta. No processo de recuperação da EVALI, segundo Natália, o fisioterapeuta é imprescindível, principalmente na melhora da funcionalidade pulmonar e suporte ventilatório. 

Danos à saúde bucal
Quanto à saúde bucal, a professora Paula da Silveira, do curso de Odontologia da Unifametro, esclarece o uso de substâncias já comprovadas como irritantes para as vias aéreas na produção do aerossol presente nos cigarros eletrônicos, a exemplo do propilenoglicol e glicerol. 

Além disso, a professora alerta sobre os riscos de explosão dos dispositivos na boca dos usuários. Segundo Paula da Silveira, este fato pode ocorrer devido às baterias de lítio utilizadas em muitos desses e-cigs. Com o aumento da temperatura interna e o superaquecimento, eles podem explodir, causando queimaduras químicas.

“Há relatos clínicos de pacientes que sofreram com essas explosões e o cenário não é dos melhores. Esses pacientes registram danos severos na cavidade bucal, aumento de incidência e severidade da doença periodontal, fraturas na pré-maxilar e luxações nos dentes. Além de repercussões extraorais, como lacerações no lábio superior, mucosa labial, gengiva, língua e até na pele da face”, alerta Paula.

Suyane Costa