Dia Mundial Humanitário Brasileiros dedicam suas vidas a causas humanitárias

Dia Mundial Humanitário Brasileiros dedicam suas vidas a causas humanitárias

Conheça a história de dois ativistas que têm buscado construir um mundo melhor

Comemorado nesta sexta-feira (19), o Dia Mundial Humanitário homenageia pessoas que dedicaram suas vidas para causas em prol da humanidade e da paz. A data foi estabelecida em 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU), para homenagear um brasileiro: o diplomata Sérgio Vieira de Mello, que chegou a ocupar a posição de Alto Comissário para os Direitos Humanos da entidade. 

Outro brasileiro que dedicou sua vida às ações humanitária, inspirando-se inclusive em exemplos como o de Vieira de Mello, é Reginaldo Silva, coordenador nacional de Advocacy e de Participação Juvenil da ONG Visão Mundial.

Natural do município de Patos, cidade do interior da Paraíba com pouco mais de 100 mil habitantes, o ativista, hoje com 35 anos, iniciou sua atuação social teve início aos 15, em uma luta pela proteção da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Após trabalhos com organizações de proteção da infância, o primeiro contato com a ONG Visão Mundial ocorreu em 2012, em Fortaleza.  

Reginaldo conta que, por meio da instituição, reforçou ainda mais as atividades que já realizava em comunidades vulneráveis da capital cearense, como os bairros São Miguel, Santa Filomena e Planalto Ayrton Senna. Ao longo dos anos, as ações localizadas ganharam voz e espaço e hoje têm impacto nacional. “No Brasil, a letalidade de adolescentes e jovens têm um número altíssimo. Então, hoje o nosso papel é garantir políticas públicas de combate às violências contra adolescentes. Todos os tipos de violência”, explica.

Ele afirma que acredita principalmente na força dos impactos comunitários e nas políticas públicas como principais instrumentos de transformação. “Se eu pudesse escolher um sonho hoje, apesar trabalhar nacionalmente, é o de poder olhar localmente e dizer: ‘essa comunidade é segura para uma criança, um adolescente poder viver’. Então, a gente olha nacionalmente pensando nos impactos e nas especificidades de cada local”, vislumbra.

Neste ano, a Organização das Nações Unidas traz como tema para celebração desses profissionais do trabalho humanitário a campanha “Doy Mi Voz”, que dá luz às causas pelas quais cada um destes profissionais atua. Neste sentido, Reginaldo acredita que sua atuação funciona como um canal amplificador da voz de milhares de jovens que desejam viver plenamente. 

“Essas vozes já estão nessas comunidades, elas já existem e exigem direitos. Nosso papel é ampliar essas vozes para que cheguem nas instâncias tomadoras de decisão. Eu não preciso falar por eles, eu preciso fazer essa conexão”, afirma e encerra: “é isso o que me motiva no trabalho humanitário, não é a história de violência, é a história de perspectiva”.

Enchentes de Pernambuco
Bruno Rosa, 39 anos, também tem na defesa dos direitos das crianças e adolescentes sua missão de vida, há pelo menos 15 anos.

“As crianças não são apenas o nosso futuro. Elas são o nosso presente e, por isso, precisamos fazer a mudança acontecer hoje”, defende Rosas, que há três anos atua na Visão Mundial como assessor de Programas Técnicos no Recife, em Pernambuco, e no Sertão do Estado de Alagoas, ambos no Nordeste brasileiro.

Bruno Rosa atua na rede humanitária, pontualmente na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, há 15 anos. Possui larga experiência na coordenação de projetos e programas que têm como objetivo a proteção desses grupos.

É formado em Relações Internacionais e Teologia, com MBA em Gerenciamento de Projetos e Pós-graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas para Infância e Juventude. Antes de integrar a equipe da Visão Mundial, atuava promovendo a saúde de crianças com microcefalia, deficiência, baixa visão e cegas.

“Tudo aquilo potencializou a fragilidade das crianças e adolescentes. Como eles sofreram e sofrem. Eles são as vítimas do agora e do depois, porque o que viveram vai comprometer o seu desenvolvimento futuro”, analisa.

As chuvas de 2022 deixaram marcas profundas para os pernambucanos, que viveram uma das maiores tragédias da história do Estado: 133 pessoas morreram entre o fim de maio e o mês de junho, quase a totalidade em deslizamentos de barreiras no Grande Recife.

Antes das precipitações, já havia o estrago e a ampliação da desigualdade social provocados pela pandemia de covid-19. As chuvas comprometeram ainda mais o que já estava comprometido – lembra Bruno Rosas.

“A certeza da importância do trabalho humanitário se confirma quando vemos, como eu vi, o olhar das pessoas ao receber uma cesta básica. As famílias estão passando fome de verdade e, nelas, estão as crianças. Vê-las numa situação dessas, e ainda considerar o impacto que isso terá no futuro delas, é desumano”, desabafa. 

“Por isso precisamos cuidar do futuro delas agora. Só assim vamos garantir que ele seja bom. Temos que lembrar que, no Brasil, são 33 milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza. Isso representa 10% da população brasileira. Não podemos esquecer dessa realidade”, diz.

Apesar das provações diárias, a paixão pela causa humanitária dá muitos retornos, conta Bruno Rosas. Lutar e cuidar das crianças e adolescentes é como uma via de mão dupla. Você sempre recebe algo em troca que o estimula a lutar ainda mais e mais.

Na memória, Rosas guarda um episódio vivido em 2020, quando a Visão Mundial realizou a revitalização de uma escola pública de Nova Descoberta, bairro pobre da Zona Norte do Recife, que sofre com a ausência de tudo. Na época, a Visão Mundial colaborou com a construção de uma área de lazer para as crianças.

“Elas não tinham recreio porque não havia espaço para interagir. Nós construímos, com a ajuda de nossos parceiros, um parquinho para que os recreios pudessem acontecer. E o mais gratificante foi ver as famílias envolvidas no projeto, ajudando na construção do espaço”, relembra.

“São ações, iniciativas e gestos como esses que nos fazem ter certeza de que o trabalho humanitário ajuda a mudar o mundo, cujos problemas sociais foram potencializados com a pandemia de covid-19. Por isso ele é tão necessário e deve permanecer sendo realizado cada vez mais”, finaliza Bruno Rosas.

Suyane Costa