Psicossocial registra mais de 6 mil atendimentos e reforça discussão sobre saúde mental

Psicossocial registra mais de 6 mil atendimentos e reforça discussão sobre saúde mental

Membros inferiores dormentes, mãos em formatos de punho, enrijecidas, taquicardia, sensação de desmaio, falta de ar, sensação de estar afogando em terra seca. Nem mesmo o sono é reparador. Muitas são as sensações e sintomas que mostram que a saúde mental não vai bem. O impacto da pandemia da Covid-19, o distanciamento social e a quarentena têm trazido à tona estas questões de saúde mental com agravamento de sintomas.

Um documento da Organização das Nações Unidas, lançado em maio deste ano, trouxe a pandemia como fator que destaca a necessidade de aumentar urgentemente serviços de saúde mental ou arriscar um aumento maciço de piora nos quadros de depressão, ansiedade e insônia. O apoio psicológico é uma condição trazido no documento.

A Defensoria tem promovido, durante a pandemia, este atendimento remoto da sua equipe de psicossocial, por meio de escuta cuidadosa das pessoas que entram em contato. De abril a junho, o Núcleo somou 6.710 atendimentos. Somente em junho, mais da metade dos atendimentos contabilizados: 3.445 contatos. “As demandas variam muito, mas algo recorrente e necessária é a escuta qualitativa. Às vezes as pessoas ligam somente para desabafar, já permaneci quase duas horas no telefone só fazendo essa escuta. No comparativo dos meses, observamos que mesmo em meio ao momento de pandemia, obtivemos um aumento nos atendimentos do psicossocial, pois em nenhum dos anos do funcionamento, havíamos registrado esse quantitativo. As pessoas estão sentindo falta da presença, do contato físico, da troca e nós estamos fazendo nosso melhor para conseguir dar essa assistência”, destaca a coordenadora do Núcleo Psicossocial, a psicóloga Andreya Arruda.

Acompanhada pelo Núcleo, a dona de casa Rosemary Silva, 51, diz que foi imprescindível esse contato, por vezes diário, com as profissionais. “Elas me ajudam bastante, principalmente nesse momento difícil, a gente isolada em casa, né? Elas me escutam e faz bastante tempo que eu já falo com elas, é muito importante”.

O Psicossocial conta hoje com a atuação de 5 psicólogas e 8 assistentes sociais. Fabiane Matos, 36, é uma delas. Sua atuação comporta as demandas da Região do Cariri, Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha. “O atual cenário do país vem provocando situações inimagináveis em diversos setores que prestam serviços à comunidade. Desta forma, a equipe psicossocial da Defensoria Pública vem realizando diversos atendimentos nesse período de pandemia através do home office, (ligações, mensagens de voz e texto, vídeo chamada),demandas advindas da busca espontânea e dos encaminhamentos feitos pelos defensores públicos, através dos canais de atendimentos disponibilizados. Portanto, sabendo que a eficiência do serviço só é possível através do trabalho multi e interdisciplinar, compreendemos a importância dos equipamentos sociais e da saúde, especialmente no âmbito da saúde mental, como aliados na promoção da melhor qualidade de vida aos assistidos. ”

O trabalho do Núcleo não se faz sozinho. Graças à articulação junto a rede de atendimentos, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a Defensoria Pública tem conseguido priorizar o encaminhamento de casos mais urgentes e realizar essa interlocução. “Nunca articulamos tanto a rede pelo projeto Diálogos da Defensoria, como agora nesse momento. Temos participado de muitas reuniões virtuais, estudos de caso, além das reuniões com propostas de parcerias, uma delas com o mestrado de Psicologia da Unifor para atendimento psicológico online de mulheres vítimas de violência doméstica no isolamento social, projeto este que envolve uma Universidade na França”, destaca Andreya Arruda.

Muitas vezes, as equipes precisam fazer encaminhamentos a órgãos mantidos pelas prefeituras ou pelo Estado para a demanda ser solucionada por completo. Por isso, o olhar dos especialistas no telefonema precisa ser abrangente, compreendendo de quais outras formas a Instituição pode contribuir para melhorar a qualidade de vida daquela pessoa.

Diferentes abordagens – O Psicossocial atua em diversas frentes dentro da Defensoria Pública. As 13 profissionais estão divididas hoje em oito diferentes locais que, cada um, exige um cuidado específico e atencioso. O Núcleo do Mucuripe, em Fortaleza, o Núcleo de Atendimento de Jovens e Adolescentes em Conflito com a Lei (Nuaja), o Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem), o Núcleo de Execução Penal (Nudep), o Núcleo de Atendimento de Petição Inicial (Napi), o Núcleo de Atendimento da Defensoria da Infância e Juventude (Nadij) e a Região do Cariri contam com os serviços das profissionais.

Socorro Serpa, 47, é uma das profissionais que tocam o atendimento no Nudep. A psicóloga presta atendimento aos familiares de presos e viabiliza um espaço para falar sobre o familiar que está preso, das preocupações, angústias, falar de afeto e não apenas da situação processual. “Percebo que, nesse momento, a questão da saúde mental falou mais alto, porque são praticamente quatro meses onde boa parte das pessoas estão em isolamento. Sem convivência social, às vezes, com uma convivência em família não tão fácil e isso se intensifica os conflitos. Especificamente no Nudep, o que eles trazem é a preocupação com os familiares que estão presos e não estão recebendo visita. Poder ter um espaço de escuta, onde eles trazem o cotidiano, as preocupações em relação à pessoa presa, seja o pai, um filho, esposo. Poder falar sobre isso e ter um retorno sobre isso, com certeza, já gera um grande alívio”, diz. O Nudep recebeu mais de 300 atendimentos deste tipo somente em junho.

Um risco à vida – É preciso falar de suicídio para além do ‘Setembro Amarelo’. Resultado de perturbações mentais e psicológicas, o suicídio também deve ser discutido durante a pandemia e é uma questão que surge de demandas de saúde mental. De acordo com um estudo em Michigan (Estados Unidos da América) e divulgado pelo Loudwire, o índice de pessoas que se matam cresceu 32% durante a quarentena.

No estudo, o grupo de maior risco de suicídio são trabalhadores essenciais e profissionais da saúde, que trabalham na linha de frente na luta contra o coronavírus. O principal motivo é Transtorno Pós-Traumático. A venda de álcool também cresceu no estado do estudo (41%), assim como o consumo de maconha, que dobrou. Outros riscos são insônia, acesso fácil a armas, violência doméstica e isolamento extremo. Em outra pesquisa, realizada na China, na fase inicial da pandemia, mostrou que 13,8% das pessoas passaram a manifestar sintomas depressivos leves, 12,2% apresentaram sintomas moderados e 4,3%, graves.

Nesse contexto, ainda mais, se faz urgente o acesso contínuo ao tratamento psicológico e psiquiátrico. Atualizar as abordagens das prestações de assistência à saúde mental e apoio psicossocial são imprescindíveis para a sobrevivência. O Psicossocial da Defensoria priorizou adaptações em meio à quarentena. Desde abril, 13 linhas telefônicas foram disponibilizadas para a realização desses atendimentos.

“A gente conseguiu se aproximar do assistido na pandemia. Eles sabem que não estão sozinhos. A Covid-19 está chegando em todos. E a gente não pode simplesmente não atender. Se a gente ficasse inacessível, a gente estaria sendo insensível. Na pandemia, o nosso assistido pode precisar da gente muito mais. Há casos muito delicados. Isso exige da gente ainda mais cuidado com essas pessoas”, pontua a coordenadora do serviço, psicóloga Andreya Arruda

Serviço:
Atendimento Psicossocial

Em Fortaleza
(85) 9.8560.2709 (8h às 14h) ou (85) 9.9294.2844 (11h às 17h) – Direitos da Mulher
(85) 9.9171.7476 (8h às 14h) ou (85) 9.8163.3839 (11h às 17h) – Direitos da Pessoa Presa
(85) 9.9220.4953 (8h às 14h) ou (85) 9.8717.3004 (11h às 17h) – Direitos da Infância e da Juventude
(85) 9.9731.0293 (8h às 14h) ou (85) 9.8866.4520 (11h às 17h) – Atendimento Inicial da Defensoria (Família e Cível)
(85) 9.8162.0641 (8h às 14h) ou 9.8683.0897 (11h às 17h) – Adolescente em Conflito com a Lei

No Cariri
(88) 9.8842.0757
(88) 9.9934.8564
(88) 9.9680.8667

Outros contatos importantes:

CVV – Centro de Valorização da Vida – 188

Suyane Costa