Estreia Nacional – As CANALHAS
“As Canalhas” é um experimento cênico- musical que conta, através da Música Brasileira, a história de duas senhoras que são expulsas do reino de Braseiro por sua postura contestadora e libertária e exiladas em um reino distante, porém acolhedor.
Protagonizado por Camilly Leycker (Davi Alenquer) e Mizzayra Shiva (Mizza Alves), duas potentes artistas transformistas de destaque da cena cearense, o espetáculo se propõe a trazer, utilizando -se de recursos cênicos e musicais, reflexões acerca de questões contemporâneas como a censura e o fascismo, sempre com viés bem- humorado, lançando mão do sarcasmo, ironia e paródia como ferramentas de questionamento de padrões pré- estabelecidos, de normas impostas e tensionando criar estratégias de sobrevivência em meio às convenções sociais.
A música exerce papel fundamental para o espetáculo, sendo um terceiro personagem, costurando o roteiro de maneira habilidosa com base em pesquisa musical realizada pelas artistas, determinando o tom da montagem, que pode ser dividida em dois atos: A CHEGADA, onde as personagens apresentam os motivos pelos quais foram expulsas do reino de Braseiro e O RETORNO, quando termina o exílio e as duas senhoras voltam ao reino.
Há que se considerar a interessante metáfora e paralelos traçados no roteiro musical entre Braseiro e o Brasil, abismos em que a sociedade caiu e não sabe como nem por onde sair. O Braseiro d’As Canalhas é onde “a coisa está quente” e o Brasil não nos parece ser muito diferente.
AS CANALHAS monta, no decorrer da apresentação, um caleidoscópio musical interessante e improvável, onde as músicas,por vezes deslocadas do sentido original de suas composições, servem ao roteiro do espetáculo, trazendo um novo significado para suas letras quando estas encontram-se com as personagens no roteiro.
Para além do roteiro e das premissas de AS CANALHAS, apresentar ao público duas artistas transformistas protagonizando um espetáculo que versa sobre temas tão urgentes para a contemporaneidade redireciona o olhar do público, que sai dos redutos LGTBQIA+ e ganha espaço em diferentes plataformas, fazendo a arte transformista ganhar solidez e representatividade no universo das linguagens artísticas.